O projeto Mosqueiro em Ação: Sustentabilidade do Futuro visa recuperar áreas degradadas em função do descarte irregular de lixo na zona urbana da ilha e região de praias. O trabalho faz parte da agenda das aulas práticas do curso de formação de agentes ambientais comunitários, promovido pela Prefeitura de Belém, por meio da Agência Distrital de Mosqueiro (Admos) e empesas púbicas e privadas.
O local escolhido para o exercício foi um pequeno trecho do acesso ao Parque Municipal da Ilha de Mosqueiro, criado pela Lei 1.401, de 1988, situado na avenida 16 de Novembro, no bairro da Vila. O local sofria com ação danosa provocada pelo descarte irregular de lixo, causando mau cheiro e elevando o grau de contaminação de nascentes e doenças provocadas pelos vetores da dengue, malária e chikungunya.
Espécies nativas
Com a retirada da sujeira, o local ficou aprazível. Os alunos fizeram o plantio de mudas doadas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). As espécies são da linha medicinal como a andiroba, conhecida popularmente pelo seu efeito cicatrizante; cumaru, utilizada como base na indústria de cosméticos; das famílias frutíferas foram plantadas mudas de açaí (da variante BRS, que tem seu uso em 90% no solo firme) e ingá cipó, árvore nativa da região.
Também foram plantadas ipê da flor e mogno brasileiro. “Algumas espécies mais conhecidas pelo mercado (mangueiras, castanheiras, entre outras) foram evitadas por conta de seus portes elevados acima de cinco metros”, explica Railson Santos, técnico florestal e diretor-geral da Admos.
Proteção das nascentes
O segundo passo no processo de recuperação do acesso ao Parque Ambiental de Mosqueiro será a identificação das nascentes de igarapés, o chamado “olho d’água”, que é muito frequente no espaço e que corria o risco de desaparecer devido ao descontrole do bioma.
A ideia da agente distrital Vanessa Egla é formalizar parceria como Serviço Nacional de Aprendizado Rural (Senar), que detém a coordenação no Pará do projeto de proteção das nascentes. “Nós iremos avançar cada vez mais na qualificação do projeto de proteção ambiental e vamos estendê-lo também para outras áreas de ocorrências de descarte irregular de lixo de Mosqueiro”, garantiu.
Além da paisagem vegetal de espécies nativas, o acesso ao parque vai ganhar elementos urbanos como bancos e balanços e mudas de plantas ornamentais. Para o aluno Augusto Cezar de Lima, poder identificar e contemplar uma nascente de igarapé será um grande passo a favor da natureza. “Vamos deixar para nossos filhos e netos. Muito bom, mesmo”, destacou.
A aposentada Maria do Socorro Pereira, que trocou Belém pela ilha há um ano, disse que já aprendeu bastante e que tinha muitas dúvidas sobre como fazer a coleta seletiva e o procedimento correto para destinação final do lixo. “Esse curso melhorou ainda mais a minha vida e agora eu estou pronta para ensinar a lição aqui em Mosqueiro”, comentou.
Tóxico
Juntamente com as lições teóricas, o curso do projeto Mosqueiro em Ação: Sustentabilidade do Futuro tem o pacote sobre como reutilizar o chamado lixo tóxico, composto pelos resíduos da indústria eletrônica (pilhas, baterias, aparelhos de celular, painéis de televisores, fones de ouvido, computadores entre outros) e chamada linha branca, como fogões e geladeiras.
Segundo Leonardo Botelho, representante do Instituto Descarte Correto, esse montante de lixo eletrônico é totalmente reaproveitado pela indústria e pode voltar ao consumidor em forma de novos computadores que são utilizados em projetos sociais. “Isso já é uma realidade e Mosqueiro pode virar referência no assunto na geografia da região das ilhas”, disse
Leonardo. “Estamos dispostos a organizar um evento para coleta do lixo eletrônico, aqui em Mosqueiro, e depois abrir um ecoposto de coleta fixa”, completou.
COP 30
A agente distrital Vanessa Egla enfatizou a importância do projeto e do grande legado que ele deixará para Mosqueiro. Ela lembrou que Belém, em 2025, poderá ser a sede da COP 30 – o maior evento ambientalista do mundo.
Para o coordenador de Educação Ambiental da Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan), Mauro Ribeiro, a iniciativa da Admos é louvável, considerando a necessidade urgente da proteção de cobertura vegetal da grande Belém.
Para ele, Mosqueiro ainda tem grandes cinturões verdes que precisam ser preservados em ações voltadas à formação de agentes e orientação da comunidade. A importância pode ser medida por números. Nos últimos dois anos, dos 210 pontos irregulares de Belém, 150 já foram recuperados e totalmente revitalizados com paisagens livres de sujeira.
Parque
O Parque Municipal da Ilha do Mosqueiro ocupa uma área de 190 hectares, dos quais 155 são áreas alagadas e 35 de terra firme. O local abriga ecossistema de terra firme, várzea e manguezais. A fauna apresenta espécies como a preguiça comum, o macaco sagui, a paca, o urubu-de-cabeça-vermelha, o pica-pau, a cobra cipó, a sucuri, a jararaca, a pescada branca, o camarão e a piranha.
Entre as espécies vegetais destacam-se a seringueira, a andiroba, as palmeiras, o cupuaçu, o ingá, e outras espécies da floresta amazônica.
A Prefeitura de Belém tem projetada a construção da Escola Parque para educação integral sustentada na valorização da cultura local, cujo projeto está em elaboração. O anúncio da medida ocorreu em 2021.


